"A harmonia é a linha de conduta da qual toda ação humana deve proceder" - Confúcio
"A suavidade de todas as coisas anula a dureza de todas as coisas" - Lao Tzu

quinta-feira, 5 de junho de 2008

EGO - O falso centro

O primeiro ponto a ser compreendido é o ego.

Uma criança nasce sem qualquer conhecimento, sem qualquer consciência de seu próprio Eu. E a primeira coisa da qual ela se torna consciente é o outro, porque os olhos se abrem para fora, as mãos tocam os outros, os ouvidos escutam os outros, a língua saboreia a comida e o nariz cheira o exterior. Todos os sentidos abrem-se para fora.

O nascimento é isso, vir a este mundo, o mundo exterior. E o outro significa o TU. Ela primeiro se torna consciente da mãe, depois do próprio corpo – que também é o outro, também pertence ao mundo. Ela está com fome e sente o corpo, quando sua necessidade é satisfeita, ela esquece o corpo.

É desta maneira que a criança cresce. Então pouco a pouco, contrastando com o TU ela se torna consciente de si mesma. Essa consciência é uma consciência refletida porque a criança não sabe quem ela é; ela simplesmente sabe o que os outros pensam a seu respeito. Se a mãe lhe sorri, se a abraça, beija, a criança sente-se bem a respeito de si mesma. AGORA UM EGO ESTÁ NASCENDO.

Através da apreciação, do amor, do cuidado, ela sente que é boa, ela sente que tem valor. UM CENTRO ESTÁ NASCENDO.

Mas esse centro é um centro refletido. Ele não é o Ser verdadeiro. E esse é o ego: o reflexo, aquilo que os outros pensam. Se ninguém pensa que ela não tem nenhuma utilidade, se ninguém a aprecia, lhe sorri, então também um ego nasce – um ego doente, triste, rejeitado, sem valor... isso também é ego, um reflexo.

O ego é uma necessidade social e a sociedade significa tudo o que está ao seu redor, não você, mas tudo aquilo que o rodeia. E todos refletem. Sua família reflete quem você é. Você irá para a escola e o professor refletirá quem você é. Fará amizades e elas refletirão quem você é. Pouco a pouco todos adicionam algo ao seu ego e todos estão tentando modificá-lo de tal forma que você não se torne um problema para a sociedade. A sociedade está interessada em que você se torne numa peça eficiente no mecanismo do sistema, que você se ajuste ao padrão. Ensinam-lhe a moralidade que é uma política social. É diplomacia.

E toda criança deve ser educada de tal forma que ela se ajuste a sociedade que por sua vez está interessada em membros eficientes.

A sociedade não está interessada no fato de que você deveria chegar ao auto-conhecimento. A sociedade cria um ego porque este pode ser controlado e manipulado; o EU nunca pode ser controlado nem manipulado.

O ego é um fenômeno acumulativo, um subproduto do viver com os outros. Se uma criança viver sozinha, ela nunca chegará a desenvolver um ego. Mas isso não vai ajudar. Ela permanecerá como um animal. Isso não significa que ela virá a conhecer o seu verdadeiro EU, não. O verdadeiro pode ser conhecido somente através do falso, portanto, o ego é uma necessidade. Temos que passar por ele. Ele é uma disciplina.

O verdadeiro pode ser conhecido somente através da ilusão. Você não pode conhecer a verdade diretamente. Primeiro você tem que conhecer aquilo que não é verdadeiro. Primeiro você tem que encontrar o falso. Através desse encontro, você se torna capaz de conhecer a verdade. Se você conhece o falso como falso, a verdade nascerá em você. Você obtém dos outros a idéia de quem você é. Não é uma experiência direta. É dos outros que você obtém a idéia de quem você é. Eles modelam o seu centro. Esse centro é falso, porque você contém o seu centro verdadeiro. Este não é da conta de ninguém. Ninguém o modela, você vem com ele. Você nasce com ele.

Assim, você tem dois centros. Um centro com o qual você vem, que lhe é dado pela própria existência. Este é o eu.

E o outro centro que é criado pela sociedade – o ego. Ele é algo falso – e é um grande truque.

Através do ego a sociedade está controlando você. Tente entendê-lo o mais profundamente possível, porque ele tem que ser jogado fora. E a menos que você o jogue fora, nunca será capaz de alcançar o EU. Por estar viciado no centro, você não pode se mover, e você não pode olhar para o EU.

E lembre-se, vai haver um período intermediário, um intervalo, quando o ego estará despedaçado, quando você não saberá quem você é, quando você não saberá para onde está indo, quando todos os limites se dissolverão.

Você estará simplesmente confuso, um caos. Temos que passar através do caos antes de atingir o centro verdadeiro. Se você for ousado, o período será curto. Se você for medroso e novamente cair no ego, e novamente começar a ajeitá-lo, então, o período pode ser muito longo.

A sociedade abriu uma pequena clareira em sua consciência. Ela limpou apenas uma pequena parte e a cercou... tudo está bem ali. Todas as universidades, toda a cultura e todo o condicionamento visam apenas limpar uma parte, para que você possa se sentir em casa ali. E então você passa a sentir medo. Além da cerca existe o perigo. Além da cerca você é tal como dentro da cerca você é – e sua mente consciente é apenas uma parte, um décimo de todo o seu ser. Nove décimos estão aguardando no escuro. E dentro desses nove décimos, em algum lugar, o seu centro verdadeiro está oculto. Um centro que você tem carregado por muitas vidas. Este é a sua alma, o EU.

Uma vez que você se aproxima dele, tudo muda, tudo volta a se assentar. Mas esse assentamento não é feito pela sociedade. Agora tudo se torna um cosmos e não um caos; nasce uma nova ordem. Mas esta não é a ordem da sociedade – é a própria ordem da existência. É o que Buda chama de Dhamma, Lao Tzu chama de Tao, Heráclito chama de Logos.

Não é feita pelo homem. É a própria ordem da existência...

Então, de repente tudo volta a ficar belo, e pela primeira vez, realmente belo, porque as coisas feitas pelo homem não podem ser belas. No máximo pode-se esconder a feiura delas. A diferença é a mesma que existe entre uma flor verdadeira e uma flor de plástico ou de papel.

O ego é essa coisa de plástico e não um florescer... NÓS TEMOS UM CENTRO QUE FLORESCE DENTRO DE NÓS...

Por isso os hindus o chamam de lótus das mil pétalas que floresce continuamente...

Trechos de discursos de Osho.

Namastê!!